É chegado o momento da produção. Aqui vamos analisar o papel e importância do
produtor, da equipa técnica e artística, bem como de alguns cuidados a ter na
gestão do orçamento e do calendário. Vão estar em causa também as questões
técnicas da produção ao nível captação de vídeo/áudio.
No final desta unidade deve ser capaz de :
Perceber o decisivo papel do produtor e as formas mais adequadas de
relacionamento a estabelecer;
Conhecer a composição da equipa técnica do produtor e a importância do
casting;
Reflectir sobre os principais elementos que compõem o custo do projecto e a
sua importância na gestão do orçamento na fase de produção;
Conhecer as formas mais correctas de fazer a captação de vídeo e áudio.
5.2 O Produtor
Existem produtores de vídeo localizados nas áreas metropolitanas. Geralmente os
seus serviços são oferecidos independentemente da sua localização. Isto
apresenta diversas questões. Como se localiza um produtor? Não são todos o
mesmo?
As diferenças entre produtores pode cingir-se às espécies e dimensões das suas
facilidades; à viabilidade de talentos literários, interpretativos ou técnicos,
à quantidade de equipamentos que possuem, à sua reputação financeira e aos
tipos de vídeos que criam. Produtores profissionais, são pessoas de negócio
especializadas em comunicação visual. Ou possuem ou são capazes de localizar os
talentos e os equipamentos necessários para a feitura de um vídeo.
Alguns produtores podem ter mais experiência na criação de certos tipos de
vídeo ou de certos géneros estéticos. Os seus talentos variam. Mas a pergunta
mantém-se: “Como encontrar um produtor?”.
Provavelmente a melhor forma é perguntar a alguém que tenha patrocinado um
vídeo. Um cliente satisfeito é a melhor referência de um produto. Se possível,
falar a diversos produtores, ver os seus trabalhos, observar as suas
facilidades e deixar referir os seus êxitos. Dispenda algum tempo para
localizar o seu produtor.
Como abordar o seu produtor
Reprima a tentação de perguntar logo ao produtor: “Quanto é que custa?”. Ele
estará a tentar apreender especificamente; o que, quando, onde, porque e para
quem esta a pensar que necessita de um vídeo.
Além disso é necessário algum tempo para que se conheçam bem um ao outro. Diga
ao seu produtor aquilo que deseja alcançar (o seu objectivo específico). Se o
seu objectivo é excessivamente generalizado, ele poderá torná-lo mais ajustado.
Ele poderá dizer-lhe se o seu objectivo é atingível. Juntos determinarão como é
que o vídeo atingirá esse objectivo. O produtor, poderá então dizer-lhe o que
necessita de si para preparar um esboço ou sinopsis. O primeiro passo na
criação do trabalho real.
Nesta altura do planeamento é evidente que se tem de falar em orçamentos em
termos gerais. O seu produtor, deverá ter uma clara compreensão das suas
limitações orçamentais, antes de preparar uma sinopsis realística.
Se a sinopsis requer uma investigação a determinado nível, por parte do
produtor, é costume o financiamento pagar por isso.
Esta sinopsis ou resumo, destina-se a dar ao financiador uma visão do caminho
que o vídeo deve percorrer para alcançar o objectivo. É como um esquisso, um
mapa de estradas descrevendo mais ou menos como deve ser coberto um território.
Apesar de não servir como base para uma estimativa dos custos finais, pode ser
usado para detectar desvios sérios do seu orçamento já aprovado.
Uma vez aprovada a sinopsis, o passo seguinte consiste na preparação de um
tratamento. Um tratamento não é um guião e não detalha as cenas individuais. O
seu objectivo é dar-lhe o tom dos diálogos principais e uma ideia geral da
forma como se desenvolverá visualmente.
O guião ou script vem a seguir. Contém o diálogo falado, completo, ou o
comentário falado mais a descrição da parte visual, a música, os efeitos de som
e os efeitos ópticos. Pode não conter a direcção de cena, os ângulos da câmara,
etc. Isto pode ficar para o guião e o story board.
Vídeo, é essencialmente imagens em movimento e não palavras em movimento.
Muitas pessoas, estão orientadas num sentido discursivo e facilmente
transformam uma narrativa breve mas eficaz, numa grande prosa. As palavras
somente ajudam a reforçar o impacto racional e emocional da parte visual. A
imagem é que transporta a maior parte da mensagem.
É importante que cada passo da execução de um vídeo, seja aprovado pela
autoridade máxima da organização patrocinadora. Isto inclui a aprovação do
objectivo, da sinopsis, do tratamento e do guião.
É importante assegurar a aprovação dos detalhes técnicos. Se forem obtidas as
aprovações de uma forma planeada e ordenada, será possível ultrapassar os
auto-proclamados “peritos”, cujas ideias podem atrasar, confundir, tirar força
e eficácia da mensagem ou aumentar os gastos do filme.
Certamente conhecem a história da sopa de pedra...
Como reembolsar um produtor
Embora existam muitas variantes de contrato de produção de um vídeo, parece
haver duas formas mais usadas na generalidade.
Contrato por fases múltiplas;
Neste caso, compra-se a habilidade de um
produtor para conceptualizar. Na realidade compra-se a ideia, o tratamento e o
guião. Estes tornam-se seus, para aproveitar como melhor entender. Se gostar do
guião e puder ser produzida dentro do seu orçamento, o passo seguinte seria a
assinatura do contrato para a produção do vídeo.
Contrato de produção completa;
Compra-se a ideia e a sua produção. Mas estes
contratos geralmente têm duas cláusulas de desistência.
A primeira habilita-o a cancelar o contrato se
desaprovar o guião final. Se o fizer deverá pagar ao produtor um preço
pré-estabelecido. O guião então será seu e a parte do contrato de produção será
nula.
A segunda cláusula de desistência diz respeito
ao orçamento. Como o custo de um vídeo só pode ser calculado com exactidão após
a sua planificação, especificando então ao produtor a margem de custos e os
prazos, o contrato poderá também ser anulado. Uma vez mais pagará apenas o
acordado até à planificação.
Alguns destes problemas poderão ser evitados se seguirmos algumas destas
indicações:
Especifique claramente o seu objectivo;
Seja específico;
Conheça quem irá realizar o vídeo;
Confie no seu produtor;
Dê-lhe todos os pormenores;
Seja franco e completo;
Ele deverá conhecer os seus problemas, tão bem como conhece as decisões
finais;
Aceitando estes conselhos, não só poupará tempo e dinheiro, como conseguirá
um vídeo muito mais eficaz.
Produção
Uma vez aprovado o guião, a planificação e o contrato assinado, o patrocinador,
está liberto da maior parte dos detalhes da produção que inclui desde horários,
escolha e preparação de cenários, iluminação, equipes de filmagem, estúdio e
locais, viagens, escolha de intérpretes, etc.
É da responsabilidade do produtor, cuidar da planificação e execução de todos
estes pormenores de forma apropriada e atempada.
Se o guião exigir que determinadas cenas sejam rodadas nas próprias instalações
do patrocinador, este deve ser prevenido desde o início para que se cuide dos
preparativos necessários.
O patrocinador deverá acompanhar a produção do vídeo na fase de captação de
imagens. Sendo dispendiosa a edição do vídeo e os efeitos, o patrocinador
acompanhará também esta fase crucial da pós-produção, assegurando com o
realizador, o cumprimento dos objectivos do guião.
A aprovação final é feita com uma primeira cópia com imagem, efeitos e som.
Deve ser verificada o equilíbrio da cor, luminosidade, nível e qualidade do
som. Feita a aprovação, tiram-se as cópias para distribuição/exibição.
5.3 Selecção da Equipa Artística e Técnica
Geralmente, um produtor tem uma equipa técnica com quem costuma trabalhar:
Dispõe de um Produtor Executivo com experiência, capaz de “orquestrar” o bom
funcionamento da produção. Apoiando e fazendo cumprir as tarefas planeadas.
Um Realizador, cujas características ou experiência anterior se adequam ao
vídeo em questão. Sabendo como interpretar o guião e indicar ao operador os
ângulos ou movimentos da câmara mais adequados.
Operador, saberá pôr em prática as intenções do Realizador. Sendo o primeiro
espectador, confirmará ou não a qualidade do plano acabado de captar.
Apesar de toda esta criatividade em jogo colidir com a disciplina tão
necessária para a execução de uma obra, os seus elementos já estão habituados a
esta forma de ser e de estar com profissionalismo.
O Casting
Através de anúncios ou por convite, o Casting é um teste em vídeo, para aferir
da fotogenia e a qualidades vocais e capacidade de interpretação.
Para cada tipo de vídeo e consoante o papel, procura-se o personagem mais
adequado. Em determinadas situações, os intérpretes deverão ser os próprios
profissionais em causa. Só eles é que saberão exactamente, como trabalhar com
determinado equipamento ou executar determinadas tarefas.
Tratando-se de uma obra colectiva, deve-se fazer uma reunião geral com toda a
equipa. Dar a conhecer os objectivos do vídeo e estar aberto a novas sugestões,
desde que estas não façam afastar daquilo que estava previsto. Deixar que os
elementos da equipa se conheçam uns aos outros.
5.4 Controle das Despesas e do Calendário
O controle das despesas, torna-se uma tarefa tanto mais fácil, quanto melhor
foi feito o orçamento. Quanto mais minuciosa a listagem de despesas, melhor se
poderá quantificar os custos.
Basicamente, os custos aplicam-se em:
Equipamentos:
Câmara e acessórios;
Estúdio;
Iluminação;
Charriots; etc.
Sendo comprados, saem mais caros mas tornam-se numa despesa fixa. Sendo
alugados, poderá sair mais caro, caso hajam atrasos na rodagem.
Escritórios:
Electricidade;
Telefones;
Fax;
E-mail;
Despesas de correio;
Pessoal de escritório; etc.
Salários:
Equipa técnica e artística (intérpretes).
Geralmente são pagos semanalmente.
Materiais e Serviços:
Cassetes;
Seguros;
Transportes;
Autorizações;
Consumíveis; etc.
Calendarização
Inicialmente é feita para dar o número total (bruto) de dias. Na prática, para
entrar em vigor tem de indicar exactamente quais as datas em questão. Caso
surjam situações imprevisíveis, deverá haver suficiente flexibilidade e
criatividade por parte do produtor executivo em encontrar outras opções. Uma
equipe parada custa caríssimo.
A ordem de captação dos planos poderá não ser pela ordem que vem no guião. É
mais importante a ordem dos cenários, evitando pesadas e desnecessárias
deslocações da equipa e dos equipamentos, num vaivém que só atrasa e encarece.
Infelizmente, é nos acidentes com os transportes que se criam atrasos,
desmoralização e um conjunto de factores que atrasam e encarecem a produção.
5.5 A Captação Vídeo/Áudio
A folha de serviço define o que se vai fazer ao longo do dia. Ela é distribuída
no dia anterior pelos diferentes membros da equipa, determinando o local e a
hora de entrada de cada um. O horário de entrada poderá ser selectivo.
Geralmente, o director de fotografia e os electricistas, são os primeiros a
apresentarem-se para fazerem a iluminação. O realizador, interpreta o guião e
imagina a melhor forma de captar as cenas. Praticamente vão-se captar cenas,
que são numeradas (número de cena) e para cada repetição, haverá outra
numeração correspondente à 1ª, 2ª, 3ª,etc. vez (take). O título do vídeo e
estas duas numerações, figuram numa claquete por alguns instantes no início do
plano. A anotadora registará estes dados que serão importantes na edição. O
operador poderá ter na câmara um monitor, facilitando o visionamento das
imagens “in loco” ao realizador.
Câmara com monitor
O director de fotografia, na sua arte de “pintar com as luzes”, deverá utilizar
o contra-luz de forma a fazer realçar os cabelos negros dos intérpretes sobre
um fundo escuro.
Efeito “contra-luz”
O porta filtros com pala impede que o contra-luz atinja directamente a frente
da objectiva. Em exteriores, o uso de um filtro polarizador diante da Zoom,
melhora a qualidade das imagens tirando os reflexos.
Os filtros, para além do efeito visual a que se destinam, servem de protecção à
superfície exterior da Zoom, com a camada anti-halo.
O uso de filtros polarizadores permite imagens sem reflexos
Com e sem filtro polarizador
A utilização do filtro degradé azul, torna o céu muito mais intenso fazendo
sobressair as nuvens. Neste caso deve-se evitar movimentos de câmara sobretudo
as panorâmicas verticais.
Imagem sem e com utilização de filtro degradé azul
A camada anti-halo existe na superfície das lentes com qualidade e serve para
melhor absorver a luz, tornando a objectiva mais luminosa. Evita que a luz que
passe através dela se decomponha no espectro das cores primárias.
Na luz branca decomposta em RGB, podemos ver o efeito, quando se reflecte numa
superfície opaca amarela ou quando atravessa uma superfície transparente
amarela.
Lentes com camada anti-halo nas superfícies
Luz branca reflectida em superfície amarela ou filtrada
O Realizador além de visualizar o vídeo, transmite ao Operador os ângulos da
câmara, os movimentos desta e o tipo de plano (enquadramento). Cabe-lhe
conduzir os intérpretes e transmitir-lhes a intenção do plano por forma a obter
as expressões adequadas. Um ensaio prévio ajuda na colocação e movimentação do
intérprete.
Por vezes torna-se necessário informa-lo de que está em grande plano, o que
requer maior atenção na expressão facial e movimentos menos bruscos por forma a
não sair do enquadramento. As câmaras vídeo para arrancarem, necessitam de
recuar alguns segundos (pré-roll), por forma a embalar a cabeça e a fita
magnética até à velocidade normal. Nesse instante é que a cabeça magnética
começa a gravar. Nesta operação perde-se alguns instantes do plano final
anterior.
Por esta razão, quando o Realizador dá a voz de “Câmara”, deixará alguns
segundos para se efectuar o pré-roll, antes de dar a voz de “Acção”.
Os intérpretes devem ser instruídos no sentido de não entrarem logo em cena a
fim de não sobrepor com a voz de “Acção” do Realizador. Terminada a
interpretação, deve manter a postura do momento por mais alguns instantes de
forma a facilitar o corte na Edição. À voz de “Corta” do realizador deverá
deixar-se decorrer alguns segundos para o pré-roll do próximo plano.
Sequência de enquadramentos
A sequência de enquadramento: Plano Geral, Plano Médio e GP, é relativa.
Para um écran grande como no cinema, optaríamos pela sequência da esquerda.
Para uma sequência televisiva, seria o da direita em que o GP é maior que o da
esquerda.
O Realizador deve prestar atenção à Continuidade:
Continuidade na história ou tema.
Continuidade no assunto.
Continuidade no pensamento.
Continuidade no interesse.
Continuidade no tempo.
Continuidade no estado de espírito.
Continuidade na construção.
Continuidade no suspense.
Continuidade na iluminação.
Continuidade dos personagens.
Continuidade nos cenários.
Continuidade da acção.
Um vídeo não é uma simples junção de planos.
Na sequência que se segue, o espírito nostálgico é obtido pelo badalar dos
sinos no campanário.
Os ramos das árvores compõem o enquadramento. Por entre as folhas, passam
timidamente alguns raios de sol.
O plano geral mostra o aspecto bucólico do campo.
O elemento humano compõe a sequência.
Na prática, durante a rodagem do plano do campanário, deve-se deixar decorrer
bastante tempo antes de desligar a câmara. Isto tem como objectivo captar o som
ambiente que se prolonga pelos planos seguintes.
Sequência de planos que cria um ambiente
5.6 Auto-avaliação
Nas opções de resposta apresentadas em cada uma das perguntas seguintes assinale aquela que lhe parece a mais correcta.
1. Na produção de um vídeo, o Produtor é:
Quem o
financia ou patrocina.
Quem
prepara a Sinopsis.
Quem
coordena a equipa de filmagens.
Resposta:
2. O Casting é?
O
processo pelo qual se escolhe o Produtor.
A
escolha dos adereços e do guarda-roupa.
Um
teste para verificar capacidades de interpretação.
Resposta:
3. Das seguintes afirmações qual é a mais correcta?
Na fase de produção do vídeo a gestão do orçamento não é muito importante, pois
depende da calendarização.
Atrasos na rodagem implicam normalmente derrapagens no orçamento.
A calendarização da rodagem deve ser sempre bastante flexível.
Resposta:
4. Qual das seguintes frases é falsa?
Um “Take” significa a ordem de filmagens das cenas.
Os filtros melhoram a qualidade das imagens tirando os reflexos.
Um vídeo não é uma simples junção de planos.