Nesta unidade vamos tratar dos aspectos relacionados com a pré-produção,
nomeadamente ao nível dos meios humanos e físicos que são necessários, da
planificação e da calendarização, do orçamento do projecto e respectivo
financiamento.
No final desta unidade deve ser capaz de :
Reconhecer a importância da planificação;
Identificar os aspectos essenciais a ter em conta ao nível da orçamentação, do
financiamento a da calendarização;
Identificar funcionalmente os elementos que compõem uma equipa de vídeo, bem
como a gama de equipamentos que podem ser necessários.
4.2 A Planificação Cria a Perfeição
Após ter sido feito o Guião, (com ou sem o Story Board), o primeiro passo está
em aprovarem o Guião. Tem de haver sempre um responsável, ou responsáveis para
esta tarefa.
Com o Guião ficamos a saber o que queremos, e sabendo o que queremos, podemos
calcular mais facilmente quanto nos vai custar. Existe geralmente, uma relação
directa entre o número de opiniões emitidas e os custos do produto acabado.
Assim, devemos deixar a organização patrocinadora designar um responsável com
capacidade de avaliação e no qual se confie. Deixemos essa pessoa trabalhar à
vontade. A economia compensará. O aumento de eficácia da mensagem, podem ser
surpreendentes.
Questões de impasse, poderão ser na generalidade, resolvidas realisticamente.
Os gastos poderão ser controlados.
4.3 O Orçamento, o Financiamento e a Calendarização
Na planificação, tenho de definir o tipo de narrativa cinematográfica e o
género estético, pois é a partir destes dois pressupostos que quantifico o
orçamento.
O orçamento e o financiamento
Qual o sistema vídeo?
Terei iluminação?
Será num estúdio?
Qual será a equipa?
Os actores?
Transportes e alimentação?
Qual o locutor a contratar?
Eis uma série de questões que quanto mais bem respondidas, mais correcto ficará
o Orçamento. Quanto custa fazer um vídeo? Quanto custa fazer uma casa? A
resposta a ambas as perguntas é a mesma: depende. Depende do objectivo. De
quantas e quais as pessoas, desejamos que vejam o vídeo e por quanto tempo
desejamos que seja visto. A duração e a complexidade da produção. Os detalhes
da distribuição ou da exibição.
O objectivo que temos em mente é a chave. Um vídeo vai conseguir o que se
pretende? Que vídeo? O que é caro ou o que é barato? Talvez seja mais fácil
perguntar: O meu objectivo é alcançável? Quando o vídeo é demasiado caro é
porque é excessivamente ambicioso ou generalizado. Clarifique-o, simplifique-o,
torne-o mais específico.
Se um vídeo é a melhor maneira de o conseguir, o seu preço deve ser acessível.
Compete ao patrocinador, aprovar o Guião. Com base neste, faz-se a
planificação. A partir da planificação, calcula-se o orçamento. Nunca podemos
deixar de ter em mente, as razões que levaram o patrocinador a investir no
vídeo.
Será por uma questão de prestígio?
Beneficia com a publicidade?
Prestigia alguma instituição?
Promove a imagem de alguém?
Algumas destas perguntas poderão ser respondidas consoante a distribuição e
exibição pretendidas para o vídeo.
A calendarização
A calendarização deve ser feita em conjunto com o produtor. Geralmente, a
calendarização entra em vigor a partir do momento em que se inicia a rodagem.
Quando se inicia a produção, deve-se estar atento ao escrupuloso cumprimento do
calendário.
Nesta fase a coordenação dos técnicos, artistas, equipamentos e todos os outros
meios torna-se muito sensível.
Basta faltar alguém ou falhar qualquer dos equipamentos para que a produção
pare facilmente.
No local da rodagem está sempre um responsável, (produtor executivo) para
assegurar o bom funcionamento da equipa.
4.4 A Equipa de Vídeo/Áudio
A constituição de uma equipa, requer sempre experiência anterior nesta área e
conhecimento das capacidades dos técnicos que irão constituir a equipa. O
produtor é a entidade competente para fazer essa escolha. O produtor deverá ter
experiência anterior neste tipo de narrativa e género estético, pois um
produtor de ficção poderá não perceber nada de produção de desenho animado.
Dependendo do vídeo que se pretende, a equipa será mais ou menos numerosa.
Basicamente são necessários:
Produtor
O executivo sénior encarregado da produção de um vídeo e muitas vezes, a pessoa
responsável pelos pagamentos finais.
Produtor Executivo
Durante a rodagem, este posto é geralmente ocupado pelo Assistente do
Realizador. Ele é o responsável em assegurar que todas as coisas ou todas as
pessoas respeitantes à Produção, funcionem no sítio certo e no momento certo.
Que todos os processos de produção sejam executados consoante a solicitação.
Realizador
O membro da equipa de produção vídeo, que detém o controle de toda a acção, da
gravação do som quando a produção está a decorrer. O Realizador é responsável
pelo vídeo em conformidade com as intenções do Produtor e pela interpretação do
guião final.
Anotador
A pessoa responsável numa equipa de produção, em tomar notas respeitantes ao
vestuário e outros detalhes durante a rodagem. Isto assegura que não ocorram
discrepâncias nas cenas rodadas em alturas diferentes, mas que se destinam a
serem ligadas para dar a impressão de uma acção contínua.
Director de Fotografia
Dirige os movimentos das câmaras, o acerto dos dispositivos de controle e a
iluminação do cenário completo.
Operador de Câmara
Trabalha segundo as instruções do Director de Fotografia, na realidade é aquele
que manipula a câmara.
Assistente de Imagem
Mantém a câmara focada durante a rodagem, cuida do diafragma da objectiva e faz
os movimentos de zoom.
Técnico de Som
Responsável pela captação de som e a escola dos meios técnicos para atingir
esse fim.
Electricista
Responsável pela iluminação e executa-o consoante as ordens do Director de
Fotografia.
Maquinista
É quem movimenta a Grua, o “Chariot”, o Carrinho e a colocação do tripé.
Maquilhador
Responsável pela maquilhagem dos actores, a sua fotogenia e efeitos especiais
faciais.
Esta é uma equipa tipo.
Consoante o vídeo que se pretende, a constituição da equipa pode alterar-se
substancialmente.
Poderá ser constituída apenas por um Produtor, Realizador, Operador e
Assistente.
Se a Rodagem for toda em exterior, fica dispensada a iluminação e portanto o
Electricista. Há Operadores de Câmara capazes de dirigir a iluminação
pretendida.
Se a Rodagem for feita em estúdio, muitas vezes a iluminação já está
previamente colocada.
As câmaras vídeo trazem um microfone incorporado. Este poderá ser trocado por
um outro que seja mais ou menos direccional. Também poderá ser utilizado um
microfone emissor. Como tal, o Técnico de som é dispensável. O Maquinista só é
necessário se houver movimentos de câmara.
4.5 Os Equipamentos
A escolha dos equipamentos depende:
Do guião
Do nosso objectivo específico
Do vídeo pretendido
Do tipo de narrativa
Do género estético
O nosso objectivo específico influencia o guião. O guião em si, já define o
tipo de narrativa e o género estético.
Se optar por um vídeo documental ou de reportagem, a câmara a utilizar neste
caso deverá ser robusta e leve. Evidentemente que as gruas e outros
equipamentos pesados e complicados, ficarão de fora.
Nos vídeos de ficção, a escolha dos cenários determinará o tipo de iluminação e
se será em estúdio ou em locais apropriados.
Tratando-se de um desenho animado ou fantoches, os equipamentos em causa, são
totalmente diferentes.
Quem são os nossos espectadores?
Se pretendemos fazer uma emissão televisiva, torna-se evidente que a qualidade
é importante. Mas se o nosso objectivo é fazer uma simples edição em VHS, para
oferta a clientes e amigos, nada impede que a captação seja feita numa
qualidade superior.
Que equipamentos?
Forçosamente teremos de começar pela câmara. A sua importância deve-se ao facto
de captar as imagens para a produção do vídeo.
As câmaras vídeo, tiveram uma grande evolução nos últimos anos.
Do pesado gravador vídeo... ao ligeiríssimo handy cam.
Os sistemas analógicos, têm sido superados pelos sistemas digitais. Nas
sucessivas cópias durante a edição, a curva analógica deforma-se e a imagem
perde qualidade. No sistema digital, definido por sinal ou ausência de sinal, a
qualidade da imagem mantém-se, após muitas cópias.
No sistema de varrimento do écran em linhas par e ímpar, quanto mais linhas,
melhor a qualidade da imagem. No sistema digital é por pontos luminosos
(Pixels).
Varrimento
do écran em linhas par e ímpar
Varrimento
da imagem
Analisemos antes de como é composta a luz branca: Se utilizarmos três
projectores com as cores primárias; encarnado (red), verde (green), azul
(blue), obtemos, por mistura, as outras cores. Da mistura das três cores
primárias obtemos o branco.
Encarnado + Verde = Amarelo
Encarnado + Azul = Magenta
Azul + Verde = Ciano
Na retina do olho humano, os cones são responsáveis pela visão das cores,
fornecendo ao cérebro a informação da crominância da imagem.
Os bastonetes, são responsáveis pela análise do brilho ou luminância.
Da mistura das três cores primárias obtemos o branco
As câmaras de vídeo, partindo da combinação aditiva das côres primárias,
dispõem interiormente de três placas sensíveis: RGB (Red, Green, Blue).
Antes de serem constituídas por uma só camada, as películas tinham três camadas
sensíveis às cores primárias.
Película com três camadas sensíveis ás cores primárias
As câmaras vídeo com 3CCD correspondem a três placas sensíveis às cores
primárias.
Bloco de câmara vídeo com 3 CCD
Se as imagens na película se obtêm por um processo fotoquímico, em vídeo é por
electromagnetismo.
Num enrolamento de fio (bobina), em torno de um núcleo de ferro com uma
estreita fenda, constitui uma cabeça magnética. Quando aplicamos um sinal
eléctrico na bobina, forma-se um campo magnético na fenda (entreferro).
Encostada à cabeça magnética, está uma fita de gravação (suporte com camada de
óxido) a passar à velocidade constante. O campo magnético fica registado na
fita.
Numa operação inversa, quando fazemos passar uma fita com impulsos magnéticos
gravados, obtemos da cabeça magnética impulsos eléctricos correspondentes.
Estes podem ser amplificados em forma de som ou imagem.
Cabeça magnética de um sistema de gravação sonora
A gravação da imagem na fita magnética, foi uma engenhosa invenção, ao
utilizar-se uma cabeça rotativa e inclinada, criando assim, pistas inclinadas e
independentes, correspondendo cada uma a uma imagem.
Cabeça rotativa inclinada
As câmaras DV (Digital Vídeo), surgem no mercado com qualidade digital e
compatíveis no formato.
Câmara DV (digital vídeo)
Uma câmara requer um tripé, que poderá ser em: madeira, alumínio ou fibra de
carbono, sendo este último leve e resistente.
É conveniente que se tenha:
Uma aranha para os pigões do tripé, quando se roda em interiores de casa.
Uma cabeça hidráulica para que os movimentos de câmara sejam suaves.
Que a cabeça seja sobre uma calote esférica para se fazer o nível com a bolha.
Tripé com aranha
Cabeça
hidáulica
Calote
esférica com nível
O tripé pode estar assente sobre uma aranha com rodas, facilitando o seu
deslocamento em chão plano.
Aranha com rodas
O “Charriot”, assente sobre carris faz os movimentos horizontais da câmara. A
cabeça do tripé, poderá ser colocada numa grua com a câmara juntamente com o
operador. Mais sofisticadamente, teremos a câmara numa grua servo comandada,
fazendo os movimentos horizontais e verticais por comando de servo-motores. O
operador, sentado diante de um monitor, controla a câmara por meio de um
manípulo.
Grua
servo comandada
Grua
com operador
Charriot
A iluminação em estúdio é feita com projectores fixos: a iluminação feita com
projectores de luz pendurados, proporciona uma superfície de chão livre de
cabos e de tripés de luz
Esquema de iluminação com projectores fixos
Projectores de luz pendurados
Basicamente temos três tipos de projectores de luz:
Um projector de luz difusa e de grandes dimensões. Serve para atenuar a dureza
das sombras.
Um projector principal e que faz a iluminação.
Um projector contra luz e que realça os contornos.
Três tipos de projectores 1-luz difusa, 2- luz fresnal, 3 – luz condensada
Um projector é constituído por:
Palas que cortam a luz horizontalmente ou verticalmente.
Contém um porta filtros.
Dispõe de um botão para concentrar ou dispersar a luz.
Não deve ter uma ventoinha de arrefecimento, porque o seu ruído fica gravado na
rodagem.
Projector: A - porta filtros; B – Palas; C – caixa de arrefecimento
Observe-se os dois esquemas de iluminação feitas em relação à câmara e no
primeiro caso, a luz atravessa uma janela.
Esquemas de iluminação
Nos casos em que há mistura de luz interior com a luz exterior, temos de ter em
conta o seguinte:
Geralmente a luz exterior é muito mais forte que a luz interior que é
artificial (depende da hora).
A Temperatura de cor (Graus Kelvin) da luz exterior, é superior ao da luz
artificial (interior).
Durante o dia, quando acendemos uma lâmpada no interior da casa e com as
janelas abertas, reparamos que a luz da lâmpada é comparativamente mais
alaranjada.
A luz natural média ao meio dia é cerca de 6000 Graus Kelvin.
A luz de um projector, é cerca de 3200 Graus Kelvin.
Tabela da temperatura de cor em Graus Kelvin
Havendo temperaturas de cor diferentes, podemos fazer o seguinte:
Colocar uma gelatina apropriada (cor alaranjada) nos vidros das janelas. Toda a
luz solar que entra, passa a ter a mesma temperatura de cor dos projectores do
interior da casa. A luz geral é alaranjada.
Ou então deixamos as janelas desimpedidas e colocamos filtros apropriados de
gelatina azul. A luz geral é azulada.
Filtros nas janelas e filtros nos projectores
Os filtros nos projectores de luz tiram luminosidade.
Em exterior, utilizam-se reflectores (contraplacados forrados com folhado
metálico) para atenuar as sombras muito demarcadas. Este processo é muito
económico e prático. Substitui com eficácia os pesados projectores. Evita o uso
de geradores para alimentar com corrente eléctrica os projectores.
Em estúdio, determinados cenários com uma só cor e demasiado demarcado, afecta
todo o ambiente tornando neste caso, tudo avermelhado. Uma boa ventilação
impede o aumento da temperatura ambiente devido aos projectores. A
insonorização melhora a captação do som.
Projector
de exterior
Iluminação
em estúdio
4.6 Os Locais e os Apoios Logísticos
A escolha dos locais depende essencialmente da planificação. Durante a
pré-produção, fazemos a planificação em função do guião. Pelo guião, sabemos
quais as cenas feitas no interior ou no exterior.
Iniciamos uma prospecção a:
Diversos locais com paisagens adequadas aos nossos objectivos.
Interiores de casas particulares devidamente autorizadas.
Centros comerciais, museus, restaurantes, etc.
Fábricas, centros de formação, escolas, etc.
Estúdios de cinema.
Esta abordagem, faz-se em conformidade com as nossas necessidades específicas.
Com um pouco de diplomacia e espírito comercial, poderemos obter acordos
vantajosos para ambos os lados. Para a produção do vídeo que procura os locais
como cenários e para quem cede esses locais gratuitamente em troca de
publicidade indirecta ao seu “espaço”.
No caso de necessitarmos de um estúdio, poderemos negociar um preço mais
vantajoso, fazendo figurar o seu nome nas legendas finais. Este tipo de
trabalho de descobrir o “onde”, requer uma pessoa com alguma experiência prévia
e que seja bastante sociável.
Os transportes ganham importância, quando se tem de deslocar técnicos e
artistas para locais fora das zonas urbanas.
Os apoios logísticos surgem da necessidade de alimentação e de alojamento. É
importante definir os preços previamente. Perguntar inicialmente pelo preço
unitário e discuti-lo para um maior número correspondente aos elementos da
equipe. As refeições devem ser feitas em saudável convívio entre os elementos
da equipa no mesmo local. Qualquer dispersão significa desencontros no horário
de retoma da rodagem.
4.7 Auto-avaliação
Nas opções de resposta apresentadas em cada uma das perguntas seguintes
assinale aquela que lhe parece a mais correcta.
1. Na planificação do vídeo deve atender-se particularmente:
Ao Guião
e ao Story Board.
Às
diferentes sensibilidades da equipa de trabalho.
Aos
lucros ou benefícios que se pretende obter.
Resposta:
2. Na produção de um vídeo deve-se priorizar:
A
definição de uma narrativa conforme o orçamento disponível.
A
constituição de uma equipa técnica alargada e profissional.
Uma
calendarização flexível e ajustável a eventuais novas dificuldades.
Resposta:
3. Numa equipa de vídeo:
O
Realizador é quem implementa o Guião.
O
Produtor é o responsável pelas filmagens.
O
Assistente de Imagem é o responsável pela fotogenia dos actores.
Resposta:
4. Das seguintes afirmações qual é a verdadeira?
Em
função dos equipamentos, definimos o género estético do filme.
Normalmente
as cenas feitas no exterior são mais caras.
A
principal fonte de iluminação nas filmagens é a Câmara Analógica.